terça-feira, 29 de março de 2011

escrevi a palavra flor

escrevi a palavra flor porque me obrigaste a fazê-lo. "Mas porquê flor?" - perguntei-te. E tu respondeste como se essa fosse a mais verdadeira das coisas - "porque quando conseguires escrever a palavra flor sem nada sentires, saberás que algo na tua vida terá que mudar". Na altura não percebi nada daquilo, mas realmente, nada senti. Flor, flor, flor, flor - lembro-me daquelas 44 rosas que me ofereceste em sinal do teu respeito - e elas a apodreceram dentro do armário antes de as ter enfiado no contentor do lixo enraivecida. Lembro-me dos colares de flores que fazia em pequena - hoje já não me lembro como se fazem porque nunca mais tiveste tempo para me ensinares essas coisas. Lembro-me da flor que deixei debaixo da terra e que agora te consome a alma ainda fresca.
Detesto flores.
E sim, agora percebo porquê. Não me peças para escrever a palavra flor, não me peças para a dizer e, sobretudo, não me ofereças flores. Oferece-me palavras. Oferece-me o olhar perdido nos lamentos que só eu sei apagar dos teus lábios. Oferece-me o cheiro do café forte que fazes todas as manhãs antes de deixares entrar o sol pelo quarto quente das nossas noites. Mas por favor, não me ofereças flores.

Laura

2 comentários:

  1. Pois, por vezes as flores têm significados menos bons... Gostei muito do texto - há, de facto, muita diversidade nos nossos escriativos! :)

    ResponderEliminar
  2. Não dê cabo do meu negócio, não fale mal das flores :-)

    ResponderEliminar