quarta-feira, 23 de março de 2011

escrevi a palavra flor

escrevi a palavra flor como se nela pudesse desabrochar toda a primavera em que tropeço por entre colinas e crianças, esquinas sujas e decadentes no Bairro Alto, o minipreço que nunca tem nada, paredes por lavar almas conspurcadas, santuários em que me construo, como se pudesse mergulhar nela e nas outras palavras, nos conceitos pré-definidos: a felicidade, o sucesso, o amor, a paz a paz cores arco-íris promessas de uma esperança que não conheço só uma apatia parva que me rouba as horas e a vida, me suga a juventude e a velhice me bebe a sede de existir, um tédio terrível, um aborrecimento tão insuportável que transborda de mim, não me apetecem os dias nem me apetece nada, os olhos fixos na linha do horizonte de Lisboa que tanto faz que seja o castelo, as amoreiras, são pedro de alcântara, podia ser gente ou parede branca que tanto fazia como também tanto me faz duas centenas de milhares de pessoas, lutas, ideais e revoluções de valores (só peço que falem mais baixo), tanto me faz porque me entedia quem se debate e quer mais mas sinto pesar por quem não quer.
escrevi a palavra flor como se nela pudesse desabrochar um sentido, propósito propulsor de mim, como se nela fosse encontrar tropeçar abraçar a réstia de beleza que não encontro nem em pétalas nem em pernas nem em palavras, nenhuma palavra, como se ao menos se visse nela dor, ao menos dor, ao menos dor que não é tédio não é aborrecimento não é a indiferença crónica de que padeço, o desespero passivo de não importar uma parede branca ou os seios de uma mulher, de ser igual o sol e a primavera que entra pelas frechas da porta ou as gentes que não fazem sentido que não fazem nenhum sentido (ao menos dor),  gente a correr de um lado para o outro com os seus ministérios e relações,  profissões e cursos e pós-graduações, com os seus prédios estradas aeroportos, tal e qual um jogo de computador, brincadeira de miúdos, comandados não sei porquê não sei por quem a chorar a rir a chamar o meu nome, eu sem entender o sentido numa primavera que, mesmo estando por todo o lado, não existe para mim, eu sem entender sem distinguir num olhar vago uma parede branca da puta da cidade que digo minha, eu sem entender  (só peço que falem mais baixo), sem entender e sem distinguir (antes fosse dor, porra antes fosse dor) numa névoa pálida que não sei se me deixa ver não sei se me cega não sei se compreendo não sei se pertenço não sei nada e nem quero saber, não me importa se sei, tanto me faz se sei, ao menos fosse dor o tédio que me dança nas mãos e nos olhos. 

Regina
ps. continuo sem conseguir comentar. já sou seguidora mas depois perguntam-me com que perfil é que quero comentar e sinceramente não faço ideia do que seja.

3 comentários:

  1. Adoro as tuas imagens, o jorrar de sensações e ideias, Regina. Adorei a ideia de podermos fundir-nos com a flor e renascer. :) (Vanessa)

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  2. Es uma alma em fúria no coração de Lisboa

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